Autor: Mariana Salomão Carrara
Cartografia
Ele quem tem passeado com os cachorros, dez minutos de sol, as mãos se atrapalham, eu sei, com o pote de álcool gel, os sacos de lixo, a máscara, as duas coleiras. Antes eu reparava menos nos movimentos das mãos dele. Quando voltam do passeio ouço a respiração animada dos cachorros, a língua arfando, sempre […]
Cúmplice
Na rua da minha casa o cachorro de um morador de rua sentado no chão estica a coleira até alcançar o policial que passava, sobe em gracejos nas coxas fardadas, o rabo animadíssimo, as patinhas vacilando perto do coldre, é um filhote. O policial constrangido se dobra levemente de ternura, olha nos olhos do cachorro […]
Quase
Quase Parte de uma árvore gigante do cemitériocaiu há muitas horaspara o outro lado do muro− o lado onde ficam os vivos Caiu sobre a cabeçade ninguém. Olho de perto o não-acidenteos não-feridos contornam tranquilos a árvoreos carros seguem me apavora a árvore caída sobre a cabeça de ninguémtodo quase-acidente persisteinvisívelem busca da vítimaOlho a […]
vale a pena sair na rua
vale a pena sair na rua lá fora é onde estão os seus amigos há certo excesso de gente e algum barulho e assaltos há também miséria mas é lá fora onde estão os seus amigos vale a pena perigoso passar na frente de um bar os televisores podem dizer notícias há certo excesso de […]
Lançamento – 31 de julho!
Evento de Lançamento do romance Se deus me chamar não vou. Dia 31 de julho, no Espaço Plexi (Editora Nós). Rua Patizal, 76, Vila Madalena, São Paulo. Para comprar com a autora Mariana Salomão Carrara (mari carrara): mscarrara@gmail.com
História natural
Texto com o tema MUSEU, publicado na 4ª Revista do Centro de Pesquisa e Formação do SESC https://www.sescsp.org.br/online/artigo/11106_MARIANA+CARRARA?fbclid=IwAR0Of7R1AHTBEi4VxE7t1RbUU6faMOj9H0TcOLSYNkPGw6iKcTIY2w0g6S0 Os visitantes de hoje têm mochilas amarelas e alturas muito variadas, não entendo como podem ter a mesma idade e tantos tamanhos, são inquietos e podem derrubar os frascos, apontam uma raposa empalhada e perguntam se é […]
Vida minha vida
Entro no bar de outras épocas, é tão bom entrar num bar de outras épocas, as mesas repletas de outras formas de mim. Mas a nostalgia não é só minha, descubro que amanhã é a última noite desse bar que tem tantas décadas, as capas enquadradas dos melhores discos brasileiros, todas as capas do Chico […]
A voz que devem ter os móveis infantis
Meu amor, escrevo esta carta para avisar que nossa casa está pegando fogo. Não tive tempo de escapar, porque essas coisas, você sabe, não se notam logo, de repente as labaredas já alcançavam a saída. Aqui da mesa ainda se vê o contorno das cortinas da sala, você talvez achasse bonito o desenho do fogo […]